[Devaneios Literários] Viagem a Paris - Carlos Drummond de Andrade

26 de outubro de 2011

Caros amigos leitores(as):

Por estar muito atarefada em organizar provas e simulados, posteriormente, corrigi-los, ausentei-me neste período, todavia já estava com saudades de postar aqui, no blog de minha filha, textos literários brasileiros, afinal, não canso de repetir para os meus alunos que nossa literatura é riquíssima e, infelizmente, poucos a conhecem e a admiram.

“Para amar é preciso conhecer, só se ama com os olhos do coração” já dizia Saint-Exupéry, no livro "O Pequeno Príncipe".

Selecionei para vocês uma crônica do grande poeta Carlos Drummond de Andrade. Vale ressaltar que sua obra poética é muito conhecida, entretanto como cronista, grande parte do público desconhece o acervo de contos e crônicas do nosso grande mestre.

O poeta, nascido em 1902 e falecido em 1987, viveu 85 anos compondo versos, escrevendo contos e crônicas cuja temática está voltada para o prosaico, ou seja, fatos do cotidiano, que na maioria das vezes, passam por nós, despercebidos e o poeta, sensivelmente, consegue  captar as sutilezas de um pequeno gesto, um diálogo despretensioso, um sorriso pueril ou um encontro amoroso.

Drummond foi um escritor de muitas fases: sua poética é marcada por várias vertentes: desde os poemas telegráficos,  caracterizados pela linha irônica, aos poemas sociais marcados pela 2ª Guerra Mundial  e outros saudosistas, nos quais o poeta relembra  a família e, principalmente,  Itabira, a cidade mineira  em que o poeta nasceu. Mas tudo isso ficará para outro dia.

Falar de Drummond é um prazer inesgotável. Isso explica a maior característica de suas obras: a universalidade; em Drummond encontramos vários vieses temáticos: o amor, a guerra, a saudade, a desilusão, a ironia, a crítica social, o erotismo, enfim, é uma literatura digna de admiração, capaz de satisfazer desde o leitor mais academicista  até o mais leigo em assuntos literários.

Como prometi, segue um trecho da crônica "Viagem a Paris":

"- Ouvi dizer que vai a Paris.
- Exato.
- A negócio?
- Não.
- Turista?
- Não.
- Missão política reservada?
- Não.
- Tão secreta assim?
- Não.
- Se não sou indiscreto...transa de amor?
- Não.
- Está muito misterioso.
- Não.
- Como não? Saúde, talvez.
- Não.
- Compreendo que não queira alarmar...
- Não.
- Busca apenas repouso.
- Não
- Fugir do trabalho, então.
- Não.
- Capricho do momento.
- Não.
- Tantos não devem significar um sim.
- Não.
- Significam sim. Vou repetir as hipóteses.
- Não.
[...]
- Pode dizer que não, mas é sim.
- Não.
- Puxa vida, o senhor hoje está medonho. Resolveu responder não a tudo que é pergunta minha?
- Não.
- Ah, é? Então vamos recomeçar: o senhor vai a Paris?
- Vou.
- E que é que vai fazer em Paris?
- Ver.
- Ver o quê?
- O Último Tango em Paris.
- E por que é que não me disse isso logo, homem de Deus?
- Você não me perguntou, por que eu havia de responder?".

Nota: Quer ler a crônica inteira? Clique aqui.

Com um tom bem humorado, Carlos Drummond apresenta um diálogo entre dois conhecidos. O primeiro, por curiosidade interpela o outro com várias perguntas sobre o motivo da viagem a Paris; o segundo responde as perguntas com um sonoro NÃO. Além do humor presente no texto, ressalta-se a temática do cotidiano e por que não dizer, a alusão ao famoso filme  "Último Tango em Paris",  drama erótico franco-italiano de 1972, dirigido por Bernardo Bertolucci e estrelado por Marlon Brando e a então desconhecida Maria Schneider.

Selecionei, também, em especial, um vídeo inspirado na referida crônica.





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E por hoje é só. Até logo!

Postado por Denise Silveira [Professora de Português, Literatura e Redação.Com 31 anos de experiência no magistério. Pós graduada em Literatura Brasileira pela UERJ. Ah, e o mais importante, minha mãe].
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6 comentários :

  1. Oi Denise!
    Já estava com saudades da sua coluna!
    Imagino mesmo que com tantos afazeres seja difícil aparecer por aqui!
    A obra de Drummond é mesmo riquíssima e digna de admiração!
    Adorei a crônica e não pude deixar de rir e refletir com sua conclusão!
    Beijos!

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  2. Gostei da sua coluna Denise! Meus últimos dias estão super corridos também, sei bem como é a correria... Nossa, sem palavras pro Drummond, ele é demais né?

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  3. "E o mais importante, minha mãe!" <3

    Drummond, Drummond....ano que vem, homenageado da FLIP. Estaremos lá, certo? rs

    *__*

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  4. Adorei o post!!!

    Esse autor é um ícone, com certeza!
    Adorei essa crônica dele, muito legal e inteligente!
    Beijos
    Convido você a participar do nosso amigo secreto!
    Clique aqui! | Amigo Secreto

    Beijos!
    Bia | Blog Livros e Atitudes

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  5. Olá,vim te fazer uma visitinha e conhecer seu cantinho,aproveitei para seguir!
    Parabêns pelo Blog,se quiser me visitar,será muito bem vinda e se também quiser seguir,sinta-se mais do que em sua casa!

    Blog Uma Mulher bem Vestida

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  6. Olá Denise! Acho super interessante sua coluna, de verdade!
    Bom, eu adoro Carlos Drummond de Andrade, acho seus textos fabulosos!
    É totalmente compreensível a sua ausência, sem problemas! Haha!
    Bjão!

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