Confissões de uma garota excluída, mal-amada e (um pouco) dramática - Thalita Rebouças

27 de maio de 2016



Thalita Rebouças de casa nova causou uma certa surpresa em muita gente. Há muitos anos na Rocco e com eventuais trabalhos em outras editoras, como sua participação no livro de contos da Gutenberg, Um Ano Inesquecível, agora a carioca faz parte do time Arqueiro, com a afirmação de que considera esse "o melhor livro da sua carreira".

Apesar de saber que eu não sou mais (infelizmente) o público-alvo da Thalita, gosto muito do gênero juvenil, como vocês sabem e notam pelas resenhas. Patricia Barboza, Paula Pimenta entre outros fazem parte das minhas leituras e alguns livros são até meus favoritos. Comento isso para deixar claro que quando faço esse tipo de leitura tento me colocar no lugar do público que a autora ou autor deseja atingir. Apesar de ter achado 'Confissões de uma garota...' divertido em algumas partes, alguns pontos me incomodaram, e já digo quais.

Efetivamente esse foi meu primeiro contato com a Thalita como autora juvenil. O que já li foi um livro de crônicas 'Adultos sem Filtro', no qual curti bastante a maioria dos contos. Dessa vez, tive contato com seu universo juvenil e sua escrita irreverente, que é marca registrada da autora, de acordo com várias opiniões, e como também pude observar.

Tetê (ou Teanira) afirma de pé junto que sua sina nessa vida é sofrer. Bullying na família foi seu primeiro contato com a maldade humana, de acordo com a menina, ao receber o nome de batismo. Apelidos na escola como Tetê do Cecê também a acompanham, mas ela tem a oportunidade de começar do zero quando seu pai perde o emprego e toda a família passa a morar na casa dos avós em Copacabana. Nova escola e a chance de fazer amigos dessa vez, algo que nunca teve, são coisas positivas, certo?

A partir daí acompanhamos o desabrochar de Tetê e todos os dramas adolescentes de uma garota de 15 anos. Até então, normal como um livro típico da idade. Mas então, a autora me apresentou alguns pontos que considero problemáticos, no meu ponto de vista:

- Aquela ideia de que a personagem precisa mudar cabelo e o jeito de se vestir para os outros a acharem "bonita", a famosa "transformação";
- Tetê sempre sentiu na pele a questão do julgamento alheio e de como as pessoas são injustas. Então, chega na escola nova e conhece Valentina, a "abelha-rainha". Apesar de ser grossa com todas as pessoas, não justifica dar apelidos maldosos para Valentina entre os colegas que interage. É se comportar da mesma forma que as pessoas "más" fazem com ela, não?
- A competição entre garotas é bem forte nesse livro, ainda mais por causa de "homem". Apesar de saber que é real, achava que poderia ser melhor trabalhado a questão da sororidade entre as garotas, ainda mais com o assunto tão debatido atualmente. Tetê mesmo só foi acolhida pelo Davi, o "nerd" excluído; e Zeca, o "amigo gay que toda garota deveria ter".

Esses são os três pontos que mais me incomodaram. São tantos esteriótipos na história, e sinto que a autora tinha espaço para trabalhar algo além disso. Os pontos positivos ficam por conta de Zeca, que é engraçadíssimo, as várias receitas simples que fazem parte da história de Tetê e que podem incentivar as adolescentes a se aventurarem na cozinha sem pensar que é um "bicho de sete cabeças", e o relacionamento de Tetê com o avô, que é fofinho. Tá pra nascer um avô tão fofo como esse.





É uma leitura de poucas páginas e com o tom cômico Thalita de ser. Não funcionou exatamente para mim, mas aposto que várias pessoas, garotos ou garotas, podem se identificar com os dramas de Tetê.




Título: Confissões de uma garota excluída, mal-amada e (um pouco) dramática
Autor: Thalita Rebouças
Páginas: 272
Data de Publicação: 2016
Editora: Arqueiro
Idioma: Português
Gênero: Juvenil
ISBN: 978-8580415797


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2 comentários :

  1. Oi!
    Essa questão que você falou é algo que tem me incomodado muito nos últimos tempo. Com tanta discussão nas mídias sobre esses assuntos, como sororidade, creio que os autores poderiam trazer mais disso para suas obras. É uma forma, inclusive, de trazer essas questões para o público-alvo desses livros, que talvez ainda não tenha tido a oportunidade de contato com essas discussões.
    Fora isso, amo muito essa capa e ainda pretendo ler o livro. Não conheço nada da autora ainda! Parabéns pela resenha (:
    Gislaine | Paraíso da Leitura

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  2. Você citou pontos interessantes que eu não citei na minha resenha por achar que falaria mais do que devia. Eu particularmente estou frustada de ver que isso saiu da autora que eu acho que é um amor de pessoa. É como eu penso: o assunto ta sendo debatido em tantos lugares, por que não nos livros?
    Beijos, adorei o blog e a resenha.

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