[Devaneios Literários] Telha de Vidro - Rachel de Queiroz

16 de setembro de 2011

Após a leitura árida e objetiva de Rubem Fonseca, escolhi para esta quinzena um poema narrativo de Rachel de Queiroz. Em certos momentos, é necessária uma brisa de leveza e suavidade neste turbilhão de tarefas às quais estamos submetidos dia após dia.

A escritora sempre foi determinada na vida pessoal e profissional. Primeira mulher a receber o fardão da Academia Brasileira de Letras, autora de vários romances regionais, crônicas e alguns poemas, cultivou, acima de tudo, a simplicidade nas obras.

Rachel de Queiroz nos faz viajar pelo interior do Brasil, permitindo que o leitor descortine paisagens também áridas, personagens que lutam e sofrem para sobreviver nas precárias condições do sertão, todavia, é perceptível que entrelaçados com a secura de um cenário, por vezes, desolador, o lirismo e o romance estejam presentes.

Telha de vidro é um destes poemas que aliviam a tensão do dia.

Apresentando uma linguagem coloquial, versos livres (sem métrica) e versos brancos (sem rimas) o eu-lírico aponta para o fato de que podemos colorir nossa vida, iluminar nosso quarto escuro com uma telha de vidro que permitirá que a luz do sol, a claridade da lua e o brilho das estrelas nos façam companhia.

"Agora,
o quarto onde ela mora
é o quarto mais alegre da fazenda,
tão claro que, ao meio dia, aparece uma
renda de arabesco de sol nos ladrilhos
vermelhos,
que - coitados - tão velhos
só hoje é que conhecem a luz do dia..."

É preciso observar a linguagem infantil no emprego de diminutivos, reforçando a ideia de que, embora adultos, é mister que conservemos a criança que insiste em habitar nosso espaço e, por vezes, a expulsamos com receio de mostrar aos outros a nossa vulnerabilidade.

"Deram-lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha..."

Escritora modernista da 2ª geração (1930-1945) Rachel de Queiroz é adepta de poemas intitulados narrativos, visto que funde prosa e poesia. Predomina, neste caso, o gênero narrativo, ainda que o texto esteja dividido em estrofes e versos, porém a leitura nos permite identificar uma história que vai sendo contada em 3ª pessoa (narrador onisciente) permitindo que o leitor visualize imagens e cenário.

"A moça não disse nada,
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro...
Queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade..."


Nota: Quer ler o poema inteiro? Clique aqui.


Postado por Denise Silveira [Professora de Português, Literatura e Redação.Com 31 anos de experiência no magistério. Pós graduada em Literatura Brasileira pela UERJ. Ah, e o mais importante, minha mãe].
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6 comentários :

  1. Essa coluna maravilhosa ^^

    Amei mais uma análise incrível!
    Não lembro de já ter lido muitos poemas de Rachel de Queiroz, mas adorei compreender mais de sua escrita, sem contar que adoro o estilo de poemas narrativos!

    Parabéns, Denise e Mari, por mais um excelente post!

    Beijos!

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  2. Muito bom o post! Essa coluna é realmente muito boa. Nunca li Rachel de Queiroz, parece ser bem legal os textos dela.

    Igor Gouveia
    http://25conto.blogspot.com/

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  3. Não li nada da autora ainda, e, acredito que a grande maioria dos jovens também não.

    Também, a maior parte da divulgação é de obras internacionais e de estilos mais 'jovens', e há pouca influencia para os jovens para que leiam literatura brasileira.

    Adorei o post, vou ver se leio algum porma dela!

    Beijos
    Bia | Blog Livros e Atitudes

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  4. Muito bom.
    Alguém sabe de que ano é " telha de vidro"?

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  5. Olá! Estou fazendo meu TCC sobre o poema "Telha de Raquel de Queiroz e gostaria muito de saber em qual livro eu encontro, pois já pesquisei em todos os lugares que pude e não encontrei. Agradeço muito se alguém puder me ajudar neste sentido. Muito obrigado!

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